Aos estimados leitores Perante tantos comentários que existiam com a única finalidade, criar publicidade dos blogs do autor. Eis que aparece um comentário, ligado ao tema e merecedor de louvor, ao comentador o meu " muito obrigado", e que este gesto sirva de exemplo para todos os que desejarem fazer seus comentários. O Melhor comentário Como lhe disse, aqui venho deixar o meu comentário. E escolhi, para isso, o tema da liberdade. Entro, então, no seu assunto. «A liberdade», Miguel, é para mim uma das coisas mais difíceis de «definir». Deixo-lhe, antes de mais, a propósito, esta pergunta, em resposta ao seu «desafio» : se a pudéssemos «definir» - a definição é, em sentido próprio, aquilo de que se pressupõe o 'fim', o limite, a fronteira do de/finido como sua condição de possibilidade - acha o Miguel que estaríamos, ainda, em condições de pensar «nela»? Se de uma «definição» de liberdade nos tivéssemos apropriado, mantê-la-íamos nós, ainda, no nosso horizonte? E todavia, tem o Miguel razão: é preciso pensar nela, repensá-la, para além e aquém de si mesma. Libertá-la de «si mesma», fazê-la tremular, 'contra todas as alienações', a começar pela alienação de si mesma. Para mim, a liberdade consiste em abrirmo-nos aos «sentidos» do mundo (de uma «mundeidade» que é histórica). E friso bem este plural, porque me parece que se não deve supor a possibilidade, hoje, de o manter numa geografia fechada. Somos, enfim, pro-jectos de mundo: eis o que confronta a nossa responsabilidade. Para um cristão, a «liberdade» veio a ser «renúncia», desde muito cedo. Liberto-me do pecado como quem se afasta de uma maldição do corpo, etc, por uma salvadora renúncia. A pastoral do século XX secularizou-se, contudo, sob muitas formas. Expandiu-se, por exemplo, pelas ciências ditas humanas e pelas tecnologias do sujeito, bem como pelas instituições de adestramento diplomático, relacional, do direito internacional, etc, e as coisas mudaram: a psicologia, a psiquiatria, a psicanálise, a geografia, a antropologia, a pedagogia foram-se instalando, pouco a pouco, sob a intenção de perscrutar os movimentos mais recônditos da «alma» (da psyché) e de a fixar a uma natureza, ao que se supôs e se continua a pensar ser «a sua natureza». E eis que o psicanalista, o psicólogo, o psiquiatra, o pedagogo nos surgem como sucedâneos do «confessor». De um discurso de «libertação» (era assim que outrora se pensava a confissão, no horizonte da comunhão: exteriorizar, pelo discurso, aquilo de que era necessário que nos subtraíssemos, para recebermos a palavra, para nos elevarmos ao Verbo) ela tornou-se, pouco a pouco, num discurso da «alteração» ou da «Outração». O que nisto nos põe de pé atrás é, afinal, esta coisa estranha: a liberdade cristã de outrora tornou-se, no nosso século, «pragmática» e consentiu-se «laica». E isso, põe-nos desconfiados: nada nos é negado, a não ser pela dádiva... Cabe, aqui, um contra-exemplo crítico: há tempos, um poeta português que é, também, padre - refiro-me a Tolentino de Mendonça, que é uma figura importante da poesia portuguesa de hoje - quando lhe perguntaram como conciliava a poesia com a fé, respondeu: 'bem, não há conflito, porque a minha vocação é «não ser ninguém»'. A poesia é o exercício desse desígnio'. Foi a melhor «definição» que ouvi. A questão é, portanto, para mim, esta: a liberdade exercita-se, vive-se, não se «define», para se «exercer». Exactamente como a fé, desconfio eu. E isso implica fatalmente que ela de si própria duvide e a si mesma se interrogue: suspeitamos, hoje, de todos os «artigos definidos». Eis, pois, «a minha opinião». (Entretanto, em benefício de um melhor conhecimento mútuo, aqui fica uma breve resenha biográfica. Fui, em tempos, operário. Trabalhei, durante uns bons 14 anos, em fábricas de refrigerantes, de produtos químicos, na construção civil, em estaleiros navais e numa companhia de seguros. E vi muita coisa inesperada... Quanto à «liberdade», apenas discursos e graffitis...) Obrigado pela sua atenção. Um abraço do JP Enviado por JP em março 27, 2005 02:02 AM |